O antigo município de Apodi, pioneiro no desbravamento da região oeste do estado, tornou-se campeão de uma estranha competição; a de destruir seus monumentos históricos. E a gloria dessa invejável proeza, lamentavelmente, coube a nossa querida e respeitável paróquia.
Não vemos nenhum motivo que justifique esses atentados ao nosso patrimônio de coisas do passado; sejam de Apodi sejam de outras cidades. Principalmente em em se tratando de obras sacras. É preciso acabar, de uma só vez por todas, com essa mania absurda.
Primeiro foi o antigo cruzeiro, demolido na década de 50, com autorização do vigário. Monumento que tinha sua história. A história de um milagre alcançado. Segundo a lenda, em virtude de uma promessa feita, para erguê-lo em frente á igreja matriz, caso cessasse uma epidemia que atacava terrivelmente a população, em época distante.
Foi esse motivo da construção do cruzeiro em Apodi, no século passado. Testemunha de gerações que o contemplaram e ali rezaram, buscando socorro e alívio para os seus sofrimentos. Símbolo sagrado, traduzindo na grandeza e na infinita beleza do seu significado, o poder milagroso da fé. Depois, da década de 60, foi a vez dos lindos altares da velha matriz, também destruídos por ordem de um padre. Eram ornamentos de rara beleza arquitetônicas.
Ao notar a falta dos altares, uma mulher que viera de natal visitar seus familiares, emocionada, teve uma crise de choro. Perguntaram lhe então, porque tanta lágrima. Ela respondeu: ''Você não esta vendo? Mutilaram nossa igreja! Violaram o templo sagrado! As lágrimas que chorei é muito pouco para tamanho crime''. Naquele gesto emocional, o seu protesto. Agora a vítima foi o marco do bicentenário da paróquia, assinalando os 200 anos de vida religiosa, completados no ano de 1966, quando se comemorava com festa monumental o magnifico evento. A golpes de alavanca e picareta o monumento tombou, aos pedaços, feridos pela ação de um ato impensado. Como se em vez de simbolizar um fato histórico importante, evocasse algo de maléfico.
Tal como a mulher, que derramou lágrimas pela destruição dos altares, uma adolescente chorou ao presenciar a derrubada do monumento. Fiquei admirado, confesso, ao ver naquela jovem tão sublime e emocionante sentimento de pena, diante da cena destruidora daquele símbolo, construído com tanto carinho e espírito de religiosidade pelo povo católico de Apodi. Não era aquele o marco definitivo do bicentenário da paróquia. Estava incompleto. Inacabado. Não se tratava de uma construção improvisada, sem sentido. Havia uma planta, concebida segundo nosso passado, o nosso começo, as nossas tradições. Alguém tinha o dever de conclui-lo. Não de derruba-lo.
Fonte: Apodi, Sua História - Valter de Brito Guerra
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