segunda-feira, 24 de junho de 2013

Decepção - Raimundo Torres

De sorriso nos lábios, iniciei a pintura de um belo quadro.
Procurei usar cores agradáveis à vista humana.
Os traços, os contornos, os adornavam de modo a causar profunda admiração.
Belo em cada detalhe, atraente em cada adereço.
Aquilo demonstrava a possibilidade de uma obra singular.
Única.
Perfeita.
Parecia não ter defeitos.
Estava ali,
Aparentava não possuir vestígios de fracasso.
Expressei meus sonhos.
Meus ideais.
Minhas emoções.
Meus sentimentos.
Enfim, estava ali na grande tela, meu lado bom,
Sadio,
Infalível,
Em um dado, em meus movimentos,
De um modo descuidado, entre as perfeitas cores,
Usei de meu lado réprobo, e...
Deixei, dando asas as minhas aspirações
Escorrer minhas imperfeições...
Minha fragilidade...
De repente, o belo que encantava,
Já não era mais belo, mas algo repugnante.
O infalível se tornou algo pouco durável,
Moldável aquilo que é mau...
O que parecia um painel de sonhos,
Se tornara densas dúvidas
O brilho, o encanto, o canto, se tornara opaco.
Vazio.
Sem afeição natural.
O colorido da tinta não foi capaz de
Camuflar os defeitos ali existentes...
Chorei...
Pus as mão no rosto e não quis ver...
Foi quando me dei por mim...
Eu havia pintado o ser humano, à minha vontade.

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